quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Paraíso Perdido - Canto VI (Trecho)

"De Satã os exércitos unidos:
Eriçam-se sem conta as duras lanças,
Cerram-se os elmos, e os escudos mostram
Jactanciosos emblemas insculpidos:
Lá se apressam com fúria, imaginando
Que nesse dia, por astúcia ou força,
A montanha de Deus conquistariam,
E que da Onipotência imensurável
O invejoso rival, o êmulo altivo,
Se assentaria no supremo trono;
Mas em meio caminho os seus projetos
Descobriram-se logo írritos, loucos.
Ao primo intuito nos parece estranho
Que anjos, opondo-se em feroz batalha,
Uns contra os outros férvidos se arrojem, —
Eles que tão unânimes soíam,
Como filhos de excelso potentado,
Em festins de prazer e amor unir-se,
Ao Sempiterno Pai hinos cantando:
Mas idéias de paz, brandos projetos.
Evaporam-se, assim que brama e troa
O alarma temeroso, a voz de assalto.
O apóstata, do exército no centro,
Monta um coche que o Sol no brilho iguala:
Entre ígneos querubins e escudos de ouro
Tal porte ostenta que simula o Eterno.
Assim que estreito e pavoroso espaço
Entre ambos os exércitos avista,
Que fronte a fronte mútuos se alardeiam
Terríveis massas de extensão medonha,
Desce Satã do sublimado sólio;
E, com passo avançando altivo e vasto,
Todo fulgindo de brilhantes e ouro,
Nos mais altos projetos engolfado,
Vai logo pôr-se à frente das colunas
Onde mais p’rigos proporciona a guerra.
Abdiel, que das ações as mais ilustres
Sempre se adorna e que de heróis se cerca,
Encara-o, — e, cheio de insofrida fúria,
Idéias tais no coração rumina:
— “Ó Céus! Como do Altíssimo o transunto
“Existe onde a pureza e a fé já faltam?
“Como, depois da perda das virtudes,
“Inda resta valor, potente heroísmo?
“E como é crível que o mais fraco possa
“Parecer de invencível valentia?
“Eu, confiado de Deus no auxílio ingente,
“Vou essas forças debelar, eu que ontem
“Suas razões provei fúteis e falsas.
“Justo é que vença, quando a espada empunha,
“Quem venceu defendendo a sua verdade, —
“Num e noutro conflito obtenha os louros,
“Não obstante da inveja o estorvo infame,
“Quando a razão recorre urgente às armas
“Contra as armas que alçou fera injustiça,
“Deve sempre a razão cantar vitória.”
Assim, pensando, avança da coluna
Contra o inimigo audaz que em campo o espera
Por essa prevenção embravecido.
Desta maneira impávido o provoca:
— “Soberbo, então achei-te? O fito punhas
“Em chegar, sem que alguém te urdisse estorvos
“Às alturas que fero ambicionavas,
“Do imensurável Deus ao lado, ao trono
“Que abandonados e indefensos crias
“Só pelo medo, difundido ao longe,
“De tuas forças, da eloqüência tua;
“Louco! sem distinguir fútil a empresa
“De contra o Onipotente pôr-se em armas!
“Ele que pode, co’o mais leve aceno,
“Criar, armar exércitos infindos,
“Que tua audaz insânia aniquilassem, —
“Ou de um só golpe e só coa destra sua,
“Que além se estende dos limites todos,
“Exterminar-te a ti, tuas falanges,
“E no Orco tenebroso submergir-vos!
“Mas vês que o teu pendão nem todos seguem:
“Milhões de anjos ali, que o Eterno adoram,
“Preferem da piedade o fiel partido:
“Porém vê-los teus olhos não puderam
“Quando eu a sós, de todos discordando,
“Combati sabedor teus vãos sofismas.
“Eis minha crença: Vê, posto que tarde,
“Que às vezes poucos acertar conseguem
“Enquanto muitos mil no erro se engolfam.”
Assim o arqu’inimigo lhe responde,
Com ar de mofa, e de través olhando:
— “Por teu mau fado, investes tu primeiro,
“Quando me abraso na ânsia de vingar-me!
“Já voltas da fugida, anjo rebelde?
“Vem, toma os prêmios que o dever te outorga
“Como primícias deste braço justo
“Por tua insana língua provocado,
“Ousando sediciosa, em cúria plena,
“Opor-se ao terço dos sublimes Numes
“Que ilesa em si a divindade querem.
“Enquanto os animar divino alento,
“Ninguém de Onipotente há de jactar-se.
“Sei que dos sócios teus certo te adiantas
“Para te ornares do meu amplo espólio,
“E demonstrares às coortes minhas
“Os seus desastres na vitória tua.
“Pois bem: mas quero que entretanto me ouças,
“E nem te gabes que ao silêncio me urges.
“Sempre julguei que Céu e liberdade
“Eram comuns a todo o empíreo Nume:
“Vejo agora porém que hórrida inércia
“A todos esses constitui escravos
“Que tão armados me apresentas hoje,
“Da música e festins ao gozo entregues,
“Do Céu serventes vis, histriões, comparsas.
“Por que demência tão risível cuidas
“Que a liberdade ao servilismo ceda?
“Ambos se hão de mostrar no dia de hoje.”
Logo Abdiel desabrido assim lhe torna:
— “Apóstata, prossegues sempre no erro;
“Afastado da viela da verdade
“Nem mesmo do erro te eximir procuras:
“Manchas da escravidão co’o injusto nome
“A obediência que todos tributamos
“A Deus, à Natureza, sempre acordes.
“Quem pode mais e se avantaja em tudo,
“Inevitáveis leis aos outros dita:
“De Deus, da Natureza, eis o diploma;
“Eis à nossa obediência o jus supremo.
“É sim escravo o que obedece ao louco
“Que contra o que mais pode se rebela:
“Tais são os teus agora a ti submissos,
“A ti não livre, de ti mesmo escravo,
“E que não coras por atroz malícia,
“De nossos ministérios exprobrar-nos.
“Lá tens teus reinos no Orco, impera neles:
“No Céu eu sou feliz servindo o Eterno,
“Obedecendo a seus divinos mandos
“Que têm supremo jus a ser cumpridos:
“No Orco, de cetro em vez, grilhões te aguardam.
“No entanto, pois que da fugida volto
“Por meu mau fado, como agora dizes,
“Recebe na ímpia fronte este tributo.”
Disse. E do alto vibrou um talho heróico
Que, pronto como o raio, cai em peso
No elmo orgulhoso do feroz imigo
Sem que ele possa co’o tremendo escudo,
Coa vista perspicaz, co’o ardente gênio,
Prever, desviar a furibunda ruína.
Passos recua dez Satã enormes;
Sobre um curvado joelho então caindo,
Pôde a metade interceptar da queda
Na lança robustíssima apoiado
(Assim do seio do terráqueo globo
Rompendo um pé de vento ou peso de águas,
Tudo arrombando que por diante encontram,
Batem num monte e lhe deslocam parte
Que com todo o arvoredo se submerge).
De espanto se enchem os rebeldes tronos;
Mas dobram de ira ao ver com tanto insulto
O seu mais alto chefe enxovalhado.
Nisto o exército nosso rompe em vivas,
Exulta, quer vencer, pede a batalha.
Eis manda troar Miguel a empírea tuba
Que na amplidão dos Céus ribomba e brama,
E ao Altíssimo logo o Hosana augusto
Entoam fiéis as celestiais falanges.
Não pasma o imigo, e requintando a fúria
Com choque horrendo sobre nós se atira:
Tal bramido então ruge e tal estrondo,
Como jamais se ouviu dos Céus no espaço:
Com feroz confusão tinem, retinem
Umas contra outras férvidas as armas,
E hórridas rangem das carroças brônzeas
As arrojadas rodas furibundas;
Rechinam as descargas flamejantes
De ígneos dardos que inúmeros cobriam
Todo o Céu co’uma abóbada de fogo.
Espantoso terror se difundia
Do estampido e prospecto da batalha.
Com ímpeto e furor inextinguíveis
Os exércitos dois mútuo se assaltam.
Todo o âmbito dos Céus troa e retumba, —
E, se o Mundo formado então já fora,
Em seus eixos tremera inteiro o Mundo"


(John Milton)



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Marília de Dirceu - Lira II

Pintam, Marília, os Poetas
A um menino vendado,
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido,
E de Amor, ou de Cupido
São os nomes, que lhe dão.

Porém eu, Marília, nego,
Que assim seja Amor; pois ele
Nem é moço, nem é cego,
Nem setas, nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem.

Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília, um composto
Da mais formosa união.

Tem redonda, e lisa testa,
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu,
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois.

Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.

Mal vi seu rosto perfeito
Dei logo um suspiro, e ele
Conheceu haver-me feito
Estrago no coração.
Punha em mim os olhos, quando
Entendia eu não olhava:
Vendo o que via, baixav
A modesta vista ao chão.

Chamei-lhe um dia formoso:
Ele, ouvindo os seus louvores,
Com um gesto desdenhoso
Se sorriu, e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
Em que estava esta alma posta;
Não me deu também resposta,
Constrangeu-se, e suspirou.

Conheço os sinais, e logo
Animado de esperança,
Busco dar um desafogo
Ao cansado coração.
Pego em teus dedos nevados,
E querendo dar-lhe um beijo,
Cobriu-se todo de pejo,
E fugiu-me com a mão.

Tu, Marília, agora vendo
De Amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo,
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto,
Que ele foi quem me venceu. 

(Tomás Antônio Gonzaga - Poeta da Inconfidência Mineira)


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lobo em pele de cordeiro

Um dia, o lobo teve a idéia de mudar sua aparência para conseguir comida de uma forma mais fácil. Então, vestiu uma pele de cordeiro e saiu para pastar com o resto do rebanho, despistando totalmente o pastor. Para sua sorte, ao entardecer, foi levado junto com todo o rebanho para um celeiro. Durante a noite, o pastor foi buscar um pouco de carne para o dia seguinte. Chegando no celeiro, puxou a primeira ovelha que encontrou. Era o lobo fingindo ser um cordeiro.

Moral da História:
Sempre que enganamos os outros, pagamos pelo nosso erro logo em seguida.

Esopo



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Mais uma vitória!

Boa noite, galera! Gostaria de, nessa abençoada véspera de feriado, 
compartilhar com vocês mais uma vitória que Deus me concedeu esse ano, em se tratando 
do início da minha caminhada como futuro escritor. Meu poema "Tão bom quanto", postado nesse blog, foi selecionado para uma antologia bilíngue, a qual será lançada no Brasil e no México.
Meus agradecimentos a todos os amigos leitores do blog, e todos que acreditam em mim como o aprendiz de escritor que sou. rsrsrs


Abaixo seguem meu certificado de participação no livro e o Booktrailler da antologia







Ressalto com orgulho que minhas amigas Nivea Sabino e Lu de Farias participam juntamente comigo desta antologia. Muito obrigado especialmente à nossa querida Comendadora Izabelle Valladares, organizadora dona desta maravilhosa iniciativa que dá oportunidade aos novos escritores de mostrar seu trabalho. 



"Nunca desista dos seus sonhos" (Augusto Cury)

"Jamais desista daquilo que você realmente quer fazer. A pessoa que tem grandes sonhos é mais forte do que aquela que possui todos os fatos" (H.Jackson Brown)



Ótimo feriado a todos e boa semana!